Padaria da Fé e seu Jorge da Padaria: marcas de uma grande cidade com grandes personagens

Não era só o sabor da massa de pães, biscoitos, queijadas que levava o feirense à Padaria da Fé; era também a presença amiga de Jorge Mascarenhas, "Seu Jorge da Padaria"

Interessante como, às vezes, a figura de uma pessoa se associa de tal maneira à empresa que ela representa, ou vice-versa, que se torna difícil falar de uma sem citar a outra. É o caso da extinta Padaria da Fé e do seu proprietário, o falecido Jorge Mascarenhas, o “Jorge da Padaria”. José Pereira Mascarenhas e dona Amanda Pereira Mascarenhas, um casal respeitado e querido em Almas (atual município de Anguera), na época distrito de Feira de Santana, tiveram 10 filhos: uma mulher e nove homens.

Dotado de visão empreendedora e bons recursos, José Mascarenhas adquiriu um imóvel na área da Praça Bernardino Bahia, implantando uma padaria, e logo após transferiu-a para a Rua Sales Barbosa, isso em 1946, instalando uma loja de tecidos no ponto anterior. Afável, extremamente agradável e amigo, seu filho Jorge Mascarenhas passou a administrar a panificadora, que viria a se tornar um verdadeiro símbolo da cidade durante décadas. Muito embora outras empresas do gênero fossem surgindo, a Padaria da Fé ganhou um conceito inabalável.

Afável, extremamente agradável e amigo

Diariamente, ao final da tarde, formavam-se filas na porta da padaria, pois muitos não queriam terminar o dia sem o pão da Padaria da Fé — pão de sal (cacetinho), pão de milho, de leite e pão sovado — sem contar a queijada, roscas, broa, bolachas e biscoitos, todos de alta qualidade. A padaria tornou-se um verdadeiro ponto de encontro de comerciantes, fazendeiros, políticos e pessoas do povo, que ali iam adquirir as famosas massas e, naturalmente, conversar, trocar ideias.

Se os produtos da padaria atraíam a clientela, a facilidade de fazer amigos de Jorge Mascarenhas tornava o ambiente ainda mais acolhedor. Surgiram então sugestões e propostas para a sua adesão à política municipal, mas ele resistia, até que foi convencido pelos irmãos Humberto e Wagner Mascarenhas, que tinham forte militância na política partidária local.

Incentivado pelo irmão Humberto, que era vereador, Jorge Mascarenhas finalmente aceitou sair candidato à Câmara Municipal e, eleito, cumpriu o primeiro mandato de 1963 a 1967, período em que Feira de Santana teve dois prefeitos: Francisco Pinto, eleito pelo voto popular, empossado em 1963 e deposto em 1964 pelo governo militar, e o professor Joselito Falcão de Amorim, que o substituiu, indicado pela Câmara de Vereadores.

Reeleito, Jorge Mascarenhas viveu mais quatro anos no legislativo local (1967-1971) na gestão do prefeito João Durval Carneiro. E pela terceira vez provou sua popularidade nos anos de 1971 a 1973, período da administração do prefeito Newton da Costa Falcão, quando este se afastou em viagem oficial e, como presidente da Casa Legislativa, ele ocupou a cadeira de prefeito de Feira de Santana. Como legislador, endereçou seus esforços em favor das pessoas pobres, e até os subsídios que tinha direito eram direcionados nesse sentido. Como a cidade só contava com o Cemitério Piedade, ele implantou o Cemitério São Jorge, como opção para as famílias de baixa renda.

Mesmo deixando a política, ele continuou exercendo a sua filosofia de amor ao próximo. Ia a bairros da cidade e distritos, levando cestas básicas para a população, sempre incluindo brinquedos para as crianças. Na padaria, manteve o estilo peculiar que o credenciou como um dos comerciantes mais respeitados e queridos da cidade Princesa. Nunca disse não a quem lhe estendesse a mão. Desportista, gostava de futebol e mantinha uma equipe desse esporte formada basicamente por funcionários da panificadora, em regime estritamente amadorista, como meio de propiciar entretenimento e lazer aos funcionários, familiares e amigos.

Pela sua decência, honestidade e imparcialidade, ocupou o cargo de delegado de Polícia Civil sem máculas, como tudo o que fez. “Jorge da Padaria”, como era conhecido, deixou a vida física em 23 de outubro de 2000, cumprindo com abnegação a trajetória de verdadeiro cidadão. A Padaria da Fé ainda funcionou durante bom tempo sob o comando dos filhos José Roberto e Antônio Carlos, também herdeiros da sua índole. Mas o falecimento de um deles fez com que a cidade perdesse uma das suas mais expressivas referências comerciais: a Padaria da Fé.

Por Zadir Marques Porto Fotos: Arquivo ZMP

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