Em homenagem ao mês da mulher, o Dia a Dia News apresenta duas histórias inspiradoras de mães solo, figuras cada vez mais presentes na sociedade brasileira. Mães solo são aquelas mulheres que criam seus filhos sem o apoio de um parceiro, sendo responsáveis pela educação e sustento da família.
Dados estatísticos
No Brasil, mais de 11 milhões de mulheres criam os filhos sozinhas, o que corresponde a cerca de 15% dos lares brasileiros. A proporção é maior nas regiões Norte e Nordeste. Na Bahia, a maioria das mães solo são jovens e negras, e muitas vivem em situação de vulnerabilidade.
Tamires: a mãe de Manuella
A cabeleireira Tamires Araujo, 30 anos, é mãe solo de Manuella Araujo, que tem 7 anos de idade. Natural de Sergipe, Tamires veio, ainda criança, para a cidade de Feira de Santana, onde reside com a sua família no bairro Conceição I.

Para o Dia a Dia News, Tamires Araujo destacou que “ a maternidade não é fácil, principalmente quando se é mãe solteira”. Ela contou o desafio que viveu no âmbito financeiro ao se separar do pai da sua filha, pois ela não trabalhava, uma vez que “ele não me deixava trabalhar”.
Como fonte de apoio financeiro e de outros cuidados com Manuella, Tamires tem seus pais que a ajudaram muito financeiramente, em especial o seu pai, no início da sua separação, e até hoje a apoiam como podem. Ela citou também a ajuda que recebe da madrinha de Manuella, que leva e traz a criança da escola.
“ Eles me ajudam ficando com minha filha quando eu preciso sair para resolver alguma coisa. Inclusive quando eu saio pra me divertir, porque eu também preciso; não é porque eu sou mãe que o mundo acabou lá fora pra mim”, destacou Tamires.
Buscando o equilíbrio entre o seu trabalho e a sua vida familiar, a cabeleireira ressaltou ser “ um desafio que exige foco, determinação e adaptação”. Ela usa a tecnologia para conciliar trabalho e família, divide tarefas, aceita ajuda para conciliar essas duas áreas, aprendeu a dizer não, planeja tempo livre para ela, inclusive férias, a fim de ter tempo para sua filha e seus pais.
Sobre os cuidados com a sua saúde emocional, essencial para lidar com as situações cotidianas da maternidade solo, Tamires salientou que “ essa é uma parte que me pega muito, pois quando eu percebo que minha filha fica triste e chorando pelos cantos ao receber um “não” do pai, é muito difícil para mim. Eu não consigo lidar bem com isso mesmo tendo tanto tempo a separação”.
Fisicamente, ela busca manter a rotina de atividade físicas, mas busca priorizar a rotina da sua filha. Dentre as atividades realizadas pelas duas, Tamires destacou a ida ao shopping, incluindo a visita ao cinema “ quando assistimos juntinhas”, e viagens “ gostamos muito de viajar juntas”.
Tamires Araujo tenta “passar os ensinamentos que recebeu dos pais para a sua filha”. Com eles, ela aprendeu a ser batalhadora e honesta. Isso ela busca ensinar a Manuella e recebe muitos elogios pela educação e personalidade da filha.
“ Onde eu chego as pessoas elogiam a minha filha, dizendo que ela é uma menina educada, muito falante, faz amizade com as pessoas. Eu recebo muitos parabéns por isso”, salientou.
Ela ressaltou que o pai da menina “ não tem a maturidade que deveria ter como pai” e citou o exemplo de quando Manuella está com algum problema de saúde e ele “ às vezes ajuda com algum remédio ou apenas diz ‘você vai melhorar, filha’”. Dessa maneira, “ sempre que minha filha cai doente, está eu, a mãe dela, com ela”.
Uma mensagem deixada por Tamires para as mães solo, que estão começando a vivenciar essa realidade é:
“ Tudo passa: o pânico, a vergonha, porque eu creio na força sobrenatural da mulher. Ela pode criar seus filhos, ela pode ir sozinha na festinha da escola e fará isso muito bem. O reconhecimento sempre vem em frases como ‘ mãe, eu te amo; mãe, você é o meu orgulho’. Isso nos impulsiona, nos dá forças para continuar ”.
Diante do julgamento de muitas pessoas sobre a maternidade solo, Tamires afirmou que ser mãe é ter dias com dúvidas sobre o que está sendo feito, se existe acerto ou erro na educação dos filhos, se é o suficiente.
“ Dias virão em que o cansaço vai gritar tão alto que você sentirá vontade de parar o mundo só por um instante. Mas também existem aqueles dias, que um simples abraço do seu filho cura tudo. Dias que um ‘ eu te amo, mamãe’ ou se não chegar com uma florzinha, como a minha filha chega, faz o nosso coração explodir de amor”.

Para finalizar, Tamires expressou seu desejo para as mães: “ Se orgulhe de você, mãe. Seus filhos não precisam de uma mãe perfeita, eles precisam de você ”.
Janiele: a mãe de Lorany e Letícia
Moradora da Fazenda Amargoso, no munícipio de Rafael Jambeiro, Janiele Silva se tornou mãe aos 19 anos de Lorany Oliveira, hoje com 10 anos, e aos 25, deu à luz sua caçula Letícia Nascimento, de 5.

Janiele Silva, hoje com 29 anos de idade, contou para o Dia a Dia News que ao perceber que teria de criar suas filhas sem o apoio do pai, notou que a parte financeira seria a mais difícil, porque o seu marido era o provedor da casa.
Atualmente, ela sustenta as filhas com o valor recebido do Bolsa Família, que não é suficiente para manter os gastos das crianças, por isso ela faz bicos para complementar a renda e conta com o apoio da sua mãe, que também lhe apoia de outras maneiras.
Além da área financeira, ela destacou ter vivido momentos difíceis emocionalmente junto com a sua filha mais velha, porém com a ajuda da psicoterapia conseguiu superar essa realidade.
A mãe das meninas busca não apenas suprir as necessidades básicas delas. Ela faz questão de garantir o lazer das crianças, fazendo juntas programas como ida a festas de família e à piscina, uma “ atividade que elas gostam muito”, contou Janiele.
Ela também se considera uma boa educadora de suas filhas, porque já “educava” seus primos menores e “ como minha mãe dizia, eu já tinha a manha”. Janiele descreveu que as atividades são divididas paras as duas meninas e quando elas não fazem, ficam de castigo. Quanto à educação escolar, ela relatou que Lorany e Letícia estudam na rede pública, “têm excelentes professores e a direção da escola sempre tá auxiliando a gente da melhor forma que eles podem”.
Orgulhosa de sua garra como mãe e mulher, Janiele contou como a mãe solo é vista, a partir de sua experiência.
“Muita gente, principalmente algumas pessoas que são casadas, vê a mulher como uma coitadinha, porque é mãe solo e cria os filhos sozinha. Não é bem assim. A gente enfrenta muita coisa, muito preconceito por ser mãe solteira, às vezes as pessoas desacreditam da gente, mas a gente é muito guerreira, sempre corre atrás, não deixa faltar nada para os nossos filhos. Eu, com o pouco que eu recebo, graças a Deus, minhas filhas têm tudo o que elas precisam”.

Para as mães solo, que estão começando agora essa jornada, Janiele Silva deixou uma mensagem:
“ É preciso ter Deus, principalmente. Tem que ter foco, paciência, porque não é o fim do mundo. Procurar um psicólogo ajuda bastante a conciliar as coisas, porque a gente fica sem chão no começo”.
Janiele finalizou, reforçando que “ A mãe solo também é uma mãe guerreira como aquela que tem seu parceiro dentro de casa, a única diferença é que a gente corre atrás sozinha ”.
Fonte e Escrita: estagiária Letícia Linhares Foto: Divulgação/ Arquivo pessoal ( Tamires Araujo/ Janiele Silva)