Estudo aponta impactos da falta de saneamento e sobrecarga do SUS

O estudo lançado pelo Instituto Trata Brasil, em parceria com a EX Ante Consultoria, aponta que em localidades brasileiras onde o saneamento é precário, cresce o número de internações e óbitos, com prevalência de casos envolvendo crianças e os idosos. Conforme o levantamento, em todo o país, foram contabilizadas 344 mil internações por Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado (DRSAI) e seus grupos, em 2024.

O Nordeste desponta como responsável por 27,2% do total de 93,8 mil internações contabilizadas no ano passado, por DRSAI, no país. Na região, Maranhão (32,1 mil), Bahia (24,2 mil), Ceará (12,2 mil) e Pernambuco (8,2 mil) registraram o maior número de internações por estas doenças.

Conforme o relatório, a sigla DRSAI engloba doenças de transmissão feco-oral (como diarreias, salmonelose, cólera, amebíase, febre tifoide e hepatite A), doenças transmitidas por inseto vetor (como a dengue, febre amarela, malária e doença de chagas), doenças transmitidas através do contato com a água, (como esquistossomose e leptospirose), doenças relacionadas com a higiene (como conjuntivite e dermatofitoses) e geohelmintos e teníases (como ascaridíase e cisticercose).

Ainda segundo o Trata Brasil, no Nordeste brasileiro, 77,0% das internações contabilizadas no ano passado foram por doenças de transmissão feco-oral, com participações maiores desse grupo nos estados do Maranhão (93,0%), Ceará (84,1%) e Rio Grande do Norte (83,2%). Na região, as maiores participações de doenças transmitidas por inseto vetor se deram na Bahia (44,2%), Alagoas (43,8%) e Sergipe (29,8%).

A região Nordeste seguiu a região Sudeste respondendo por 24,5% das despesas com internações por DRSAI no país, ou R$ 42,716 milhões, de acordo com o relatório. No Nordeste brasileiro, 73,2% das despesas com internações foram por doenças de transmissão feco-oral, ou seja, R$ 31,258 milhões.

INDICADORES

Os indicadores, portanto, refletem a gravidade do tema e a necessidade de ações a serem adotadas em âmbito nacional, uma vez que a falta de saneamento coloca a saúde do brasileiro em risco e sobrecarrega o Sistema Único de Saúde (SUS) com doenças evitáveis. As conclusões são do instituto e derivam da análise de dados disponíveis no Datasus, do Ministério da Saúde, entre 2008 e 2024.

Como explica Luana Pretto, presidente-executiva do Instituto Trata Brasil, 80,6% da população baiana possui acesso à água tratada e apenas 41,7% da população do estado possui acesso à coleta e tratamento de esgoto. “A falta do saneamento básico para todas as pessoas, ou seja, do acesso à água tratada e coleta e tratamento de esgotos, gerou para a Bahia 24 mil internações por doenças associadas à falta de saneamento”, destaca.

Segundo ela, o estado registra grande incidência de doenças de transmissão feco-oral, como as diarreias. “A Bahia gastou mais de R$ 11 milhões com as internações associadas a doenças que poderiam ser evitadas com o saneamento básico. A taxa de internações foi de 16 internações para cada 10 mil habitantes”, pontua Pretto.

Mortes e custos por internação

Ainda conforme o estudo, em 2023, o país registrou um total de 11.544 óbitos por DRSAI, sendo que o grupo com maior participação foi o de doenças de transmissão feco-oral (grupo A) com 49,1%, ou 5.673 casos. A região Nordeste ficou em segundo lugar, respondendo por 28,6% das mortes por DRSAI no país, ou ainda, 3.305 óbitos em 2023; sendo que os maiores números de óbitos por DRSAI nessa região ocorreram Bahia (1.135), Pernambuco (582) e Ceará (391).

Outro achado importante foi a concentração relativa de casos na infância e na velhice: em 2024, as taxas de internações por DRSAI foram de 53,777 casos a cada dez mil crianças com idade entre 0 e 4 anos e de 23,149 casos a cada dez mil crianças com idade entre 5 e 9 anos. Na terceira idade a taxa também foi elevada, de 23,664 casos a cada dez mil idosos, destaca o estudo.

Dados apresentados pelo Trata Brasil revelam ainda que, em dezembro de 2023, mais de 33 milhões de brasileiros não têm acesso à água potável e mais de 93 milhões não são atendidos com coleta de esgoto. Neste cenário, o instituto destaca que a chegada do saneamento básico deve reduzir em 69,1% a taxa de internações após 36 meses da intervenção.

“A universalização do saneamento no Brasil deve reduzir em 86.760 o número de internação por DRSAI no país. Ao custo de R$ 506,32 por internação, na média do país em 2024, essa redução no número de casos implicaria uma economia de R$ 49,928 milhões por ano. A perpetuidade desse ganho – ou seja, o legado positivo para a sociedade brasileira em termos de despesas hospitalares – seria de R$ 1,255 bilhão”, aponta o estudo lançado pelo Trata Brasil.

De acordo com o infectologista, Decio Diament, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a falta de saneamento básico expõe a população à contaminação de água, de solo, de ar e de alimentos, proporcionando a transmissão de várias doenças, inclusive, servindo como um motor de epidemias e de surtos de vários tipos de doença. O especialista cita a leptospirose, as diarreias infecciosas e doenças que são transmitidas por mosquitos que proliferam em águas que estão estagnadas. “Quando essas populações que são desassistidas do ponto de vista de saneamento básico são expostas a esses diversos germes que estão aí no meio ambiente, elas acabam tendo que procurar auxílio médico, consequentemente, isso sobrecarrega o sistema de saúde como um todo, tanto o SUS, quanto o sistema privado”, explica, citando episódios como a epidemia de dengue registrada no ano passado no país e surtos de leptospirose registrados após enchentes. Diament ressalta a necessidade de obras de saneamento básico, com extensão da rede de esgoto, água potável, obras contra enchentes, canalização de córregos para que a população possa ter uma garantia mínima de uma vida saudável. 

Fonte: Jornal Tribuna da Bahia Foto: Romildo de Jesus

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