Mãe e filha constroem 1ª casa com garrafas de vidro na vertical do mundo

Edna Dantas, 55 anos, e Maria Gabrielly Dantas, 27 anos, construíram um casa com 8 mil garrafas de vidro na Ilha de Itamaracá, em Pernambuco.

A construção da mãe e da filha recebeu o nome de Casa de sal e é uma reivindicação por moradia e ecologia popular. Agora, o objetivo delas é levar a experiência para lugares que buscam iniciativas parecidas.

A designer de moda Maria Gabrielly destaca que os financiamentos ambientais e climáticos, mesmo no ano que o Brasil recebe a a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), em Belém (PA), continua sendo distanciado da comunidade negra. Segundo ela, existe uma dívida histórica a ser reparada e as ações dela e da mãe, a empreendedora e agente socioambiental Edna, se somam na luta por reparação e valorização das tecnologias produzidas por mulheres negras.

Nosso diálogo é para que as pessoas, os poderes e empresas entendam quanto é viável e funcional a ecologia e sustentabilidade para replanejar a questão habitacional. Vi uma pesquisa recente que diz que as mulheres negras podem demorar até sete gerações para ter uma casa própria, quase 200 anos. Isso é um dado muito alarmante. E também alarma para refletirmos a onde estão as mulheres negras na promoção de direitos fundamentais como moradia, transição ecológica e justiça climática”, afirma Maria Gabrielly.

Edna e Maria Gabrielly são de uma família originária do agreste pernambucano.

“Minha vó Severina, que sempre incentivou e ensinou a reutilizar materiais recicláveis, fazer a separação e ter cuidado com os recursos naturais dentro da nossa casa”, lembra a designer de moda.

Em 2014, mãe e filha fundaram a marca sustentável Cabrochas, que nasceu como um brechó e hoje é símbolo de autonomia financeira para elas.

“Em 2019 se mudamos para Ilha de Itamaracá, especificamente para Praia do Sossego, e conhecemos um território de uma natureza rica e abundante, de uma comunidade tradicional, que fica dentro de uma reserva de Mata Atlântica, uma Área de Proteção Ambiental, mas que infelizmente lida com uma negligência ambiental e um racismo ambiental muito profundo ocasionado por descartes indevidos em diversos lugares de mata, mar, mangue, rio. E a partir disso nasce a ação de transformar alguns pontos de lixo em jardins ecológicos, nisso minha mãe, Edna Dantas, com sua experiência com resíduos sólidos, entende que um dos resíduos mais descartados no nosso território é a garrafa de vidro”, cita Maria Gabrielly.

Mãe e filha trabalham há dez anos com sustentabilidade, atuando em conjunto pela Cabrochas e pela Casa de Sal. Os dois projetos têm sido grandes forças no debate do desenvolvimento de práticas sustentáveis. Elas atuam na Ilha de Itamaracá e Região Metropolitana do Recife, impactando positivamente o território e comunidade onde vivem.

A casa com garrafas de vidros começou a ser construída no dia 1º maio de 2020 e em dois anos elas concluíram os sete cômodos. “A Casa de sal, dentro da nossa pesquisa, é a primeira casa no mundo que utiliza garrafas de vidro na vertical na construção, e esse fato contribui diretamente na iluminação e no seu design. Reciclamos diversos outros materiais para construção, principalmente a madeira e móveis descartados, de fato é uma arquitetura vernacular”, conta Maria Gabrielly.

‘E isso só foi possível a partir de uma escuta ativa entre nós duas, porque nunca tínhamos feito isso antes, mas por meio de muita coragem e consciência, conseguimos construir esse símbolo de resiliência e emancipação. Hoje, só de garrafas de vidro já passam das 13 mil, utilizamos 8 mil na casa e as demais em quatro eco-lixeiras comunitárias, totalizando uma média de 8 toneladas de vidro recuperadas por nós”, frisa a designer de moda.

Por Correio Brazliense

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