No Dia dos Povos Indígenas, celebrado neste sábado (19), o Ministério da Cultura (MinC) destaca importantes iniciativas que reforçam o protagonismo indígena e valorizam suas expressões culturais. Entre os projetos em evidência estão o Pontão de Culturas Indígenas e a revista Pihhy, que reafirmam o compromisso com a diversidade e a inclusão cultural no Brasil.
“Uma parte importante de preservar, valorizar e reconhecer a cultura indígena é valorizar nossos saberes e nossa forma de enxergar a vida e os conhecimentos. Nossos saberes são milenares, e nossas bibliotecas vivas são nossos anciões. Peço, em nome de todos os parentes, o respeito pela nossa forma de preservar o conhecimento ancestral”, reflete Jp Îasanã, Tupinambá de Olivença, no sul da Bahia, agente da Cultura Viva e uma voz influente na valorização das culturas indígenas.
Ele foi um dos 20 jovens indígenas, entre 18 e 24 anos, selecionado como agente Cultura Viva, iniciativa que busca contribuir para o fortalecimento da rede.
Pontão de Culturas Indígenas: Ampliação da Rede Cultura Viva
“Um lugar onde os múltiplos conhecimentos e formas de saberes indígenas são compartilhados, aplicados em projetos reais e têm a chance de alcançar a sociedade não indígena é um caminho muito eficiente para a preservação da nossa cultura”, conta Jp Îasanã ao explicar sobre a importância do espaço.
O Pontão se propõe a mapear, articular e fortalecer as iniciativas culturais indígenas por todo o Brasil. Além disso, capacita indígenas para aplicarem seus conhecimentos e saberes ancestrais como forma de fazer cultura em suas várias linguagens (projetos, eventos, produtos audiovisuais, etc.).
“Estamos formando e fomentando a preservação de mais de 305 povos para as próximas gerações. O que o Pontão faz é, através da cultura e da educação, ajudar na luta contra a aniquilação cultural sofrida pelos povos indígenas”, pontua.
Coordenado pela Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge, em Alto Paraíso de Goiás (GO), o Pontão de Culturas Indígenas é uma referência na mobilização cultural indígena e conta com a participação de 31 indígenas remunerados. Também possui um Comitê Gestor composto pelas seguintes entidades culturais indígenas: Kanhgág Jãre – Instituto Kaingang – INKA (RS); Associação Cultural e Arte Fitxyá Fulni-ô (PE); Mbya Arandu Porã (SP); Associação Moradores e Amigos da Aldeia Amary (MT) e Associação Indígena Awkêre (TO).
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Uma das principais ações do Pontão foi a criação da Rede Nacional dos Pontos de Cultura Indígenas, que reúne mais de 500 coletivos e fortalece a articulação da Política Nacional de Cultura Viva (PNCV), promovendo maior inserção das comunidades na política cultural brasileira.
Além disso, o Pontão desempenhou um papel estratégico no Acampamento Terra Livre (ATL), em parceria com o Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena, oferecendo suporte direto a cerca de 7 mil indígenas.
A outra iniciativa foi o mapeamento iniciado em 10 de abril, que identificou 1.318 associações culturais indígenas no Brasil, das quais 119 já são certificadas como Pontos de Cultura.
Instituto Aió Conexões Pankararu
O Instituto Aió Conexões Pankararu, coordenado pelo artista Gean Ramos Pankararu também desempenha ações importantes nesse sentido.
“O nosso Instituto realiza diversas ações voltadas ao fortalecimento do nosso povo. Entre elas, temos a Mostra Pankararu de Música e o próprio Instituto Aió, que é um espaço de convivência com arte. Uma parceria muito importante é com a educação, onde, por meio do Ponto de Cultura, desenvolvemos o projeto ‘Interpretar’. Esse projeto leva para as salas de aula canções compostas a partir de inspirações no território Pankararu”, explica Gean.
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Segundo o coordenador, o Interpretar promove interculturalidade e interdisciplinaridade. “Fazemos formações com professores e organizamos oficinas e momentos de troca com os alunos. Isso fortalece bastante a nossa identidade e prepara nossa juventude para lidar com a contemporaneidade e as influências externas que chegam ao território por conta da globalização”, conta.
Além do trabalho educativo, o Instituto Aió também atua na preservação do patrimônio cultural material e imaterial. “Aqui, temos como patrimônio vivo do estado de Pernambuco as Cantadeiras de Pankararu. Somos nós, do Ponto de Cultura, que damos assessoria e apoio a esse processo, assim como à comunidade, especialmente quando surgem editais e oportunidades culturais”, acrescenta.
O Instituto Aió Conexões Pankararu se destaca como um exemplo de resistência cultural, onde fortalece a identidade e a educação de sua comunidade, ao mesmo tempo em que luta por melhores condições para continuar desempenhando atividades culturais.
Revista Pihhy: Produção intelectual indígena
Outra iniciativa é a revista Pihhy, que, com cinco edições publicadas, se consolida como um espaço legítimo para a produção e difusão do conhecimento indígena. Além disso, é considerada um marco na história da produção intelectual indígena no país, pois reflete a riqueza cultural e o conhecimento ancestral desses povos.
Realizada pelo Núcleo Takinahakỹ de Formação Superior Indígena, em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG) e o MinC, a publicação reuniu mais de 100 autores e autoras indígenas de 40 povos originários do Brasil e do México, de diferentes campos de atuação.
Os conteúdos abrangem formatos como matérias escritas, áudios, mini documentários, livros físicos e e-books. Promove também um diálogo autêntico e plurilíngue entre saberes indígenas e a sociedade.
Para Gregório Huhte Krahô, do povo Krahô, professor e um dos autores na revista, ela cumpre um papel fundamental: “é muito importante que ela seja reconhecida em nível mundial, pois é essencial aos povos indígenas. A revista tem ajudado bastante. Queremos que todos os indígenas do Brasil façam parte dela”, comemora.
Sobre a data
O Dia dos Povos Indígenas busca celebrar a cultura e a herança indígena. Antes conhecido como “Dia do Índio”, título genérico e preconceituoso que desconsiderava a diversidade linguística e cultural dos povos, a mudança de nomenclatura foi oficializada em julho de 2022, pela Lei 14.402/2022, de autoria da então deputada federal Joenia Wapichana, atual presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).
Atualmente, o Brasil tem mais de 300 povos indígenas, falantes de mais de 270 línguas.
Por GOV.BRR