O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) concluiu o inquérito da execução de Antonio Vinicius Lopes Gritzbach, delator da facção criminosa PCC executado a tiros no Aeroporto Internacional de São Paulo, e indiciou seis pessoas pelo crime. Também foi pedida à Justiça a conversão da prisão temporária de todos eles em preventiva (sem prazo determinado).
O relatório da investigação foi finalizado com 486 páginas, onde os investigadores detalham as provas colhidas ao longo dos quatro meses de investigação.
Tiveram a prisão preventiva pedida à Justiça:
- Emílio Carlos Gongorra, o Cigarreira – apontado como traficante e mandante do crime (foragido);
- Diego Amaral, o Didi – apontado como mandante do crime (foragido);
- Kauê Amaral – apontado como olheiro do aeroporto (foragido);
- Cabo Denis Antônio Martins – apontado como executor (preso em 16/1);
- Soldado Ruan Silva Rodrigues – apontado como executor (preso em 21/1);
- Tenente Fernando Genauro – motorista do carro que levou os atiradores até o aeroporto (preso em 18/1).
Os PMs Denis, Ruan e Fernando estão presos em regime temporário. Os outros três ainda não foram localizados pela polícia.
Segundo o DHPP, Gritzbach foi assassinado por vingança. A investigação aponta que Emílio decidiu matar o desafeto para vingar a morte de Anselmo Santa Fausta, traficante de drogas assassinado numa emboscada em 2021.
A morte do amigo, o suposto desfalque financeiro e ainda a delação premiada assinada por Gritzbach com o Ministério Público levaram Emílio a arquitetar a execução efetuada em 8 de novembro do ano passado.
Na investigação foram analisadas 6 terabytes de material e 20 mil páginas de inquérito. As provas incluem extração de dados de celulares, cruzamento de dados telemáticos e bancários, imagens de câmeras e rastreamento de deslocamentos.
A polícia ainda encontrou um pagamento de até R$ 3 milhões pela execução do crime.
PMs presos
Os policiais militares apontados como executores foram indiciados na segunda-feira (11) pela força-tarefa da Secretaria da Segurança Pública (SSP).
O empresário que delatou traficantes do PCC à Justiça foi morto com tiros de fuzil em 8 de novembro de 2024 em frente ao Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, na região metropolitana. O crime foi gravado por câmeras de segurança .
Os agentes da PM indiciados pela Polícia Civil são: o cabo Denis Antonio Martins (executor), o soldado Ruan Silva Rodrigues (executor) e o tenente Fernando Genauro da Silva (motorista). Os três estão presos no Presídio Romão Gomes da Polícia Militar (PM), na Zona Norte de São Paulo.
O indiciamento foi por homicídio quintuplamente qualificado pelas seguintes razões:
- Motivo torpe (para causar pânico e demonstrar o poderio de Organização Criminosa de âmbito nacional);
- Uso de meio que possa resultar perigo comum (utilização de armas de calibre restrito no aeroporto mais movimentado da América Latina, em plena luz do dia e horário de movimento);
- Por emboscada ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido (execução no desembarque do aeroporto, em frente à família da vítima);
- Assegurar a ocultação, impunidade ou vantagem de outros crimes;
- E com emprego de armas de fogo de uso restrito (fuzis calibres 7,62×39 e .556 NATO);
Segundo os investigadores, não há dúvidas de que os três PMs agiram com intenção de matar Gritzbach e assumiram o risco de matar e ferir outras vítimas ao atirarem com armas de uso restrito em frente ao maior e mais movimentado aeroporto do pais em número de passageiros e aeronaves. Um motorista de aplicativo foi morto por uma bala perdida durante o ataque contra o empresário.
Além disso, segundo a polícia, os PMs também responderão por “associação criminosa”.
Depois do parecer da Promotoria, o documento seguirá para a Justiça decidir se decreta as prisões dos envolvidos.
As investigações de outras pessoas que participaram de algum forma da execução de Gritzbach no aeroporto, como financiamento do crime e omissão na escolta do empresário, serão objeto de outro inquérito policial.
Policiais civis presos
No último dia 27 de fevereiro, a Justiça tornou rés 12 pessoas, sendo oito policiais civis, por envolvimento com o PCC, lavagem de dinheiro, tráfico, corrupção e diversos outros crimes. A investigação tem ligação com o caso Gritzbach.
Segundo a investigação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP, os acusados atuavam em conluio com o Primeiro Comando da Capital, usando a estrutura do Estado para favorecer a facção criminosa.
Além da denúncia, o MP pediu que os acusados paguem ao menos R$ 40 milhões em razão do “dano causado pelos crimes cometidos, bem como ao ressarcimento por dano moral coletivo e dano social”.
Enquanto os policiais garantiam a impunidade de criminosos e desviavam investigações, os “particulares” enriqueciam com atividades ilegais.
Segundo o MP, delegados e investigadores se uniram a criminosos para transformar órgãos como a Polícia Civil em instrumento de enriquecimento ilícito e proteção ao crime organizado.
A atuação do esquema na organização criminosa não se limitava a corrupção e lavagem de dinheiro. Os envolvidos também praticavam tráfico de drogas, homicídios e sequestros. Um dos exemplos citados na denúncia é o assassinato de Gritzbach.
Gritzbach delatou alguns dos denunciados. Veja abaixo quem são os réus:
- Ademir Pereira de Andrade
- Ahmed Hassan Saleh
- Eduardo Lopes Monteiro (investigador da Polícia Civil)
- Fabio Baena Martin (delegado da Polícia Civil)
- Marcelo Marques de Souza (investigador da Polícia Civil)
- Marcelo Roberto Ruggieri (investigador da Polícia Civil)
- Robinson Granger de Moura
- Rogerio de Almeida Felicio (policial civil)
- Alberto Pereira Matheus Junior (delegado da Polícia Civil)
- Danielle Bezerra dos Santos
- Valdenir Paulo de Almeida (policial civil)
- Valmir Pinheiro (policial civil)
Quem é Gritzbach
Vinicius Gritzbach foi um empresário do ramo imobiliário investigado pelas autoridades por lavar dinheiro do PCC. Ele havia feito um acordo de delação premiada com o Ministério Público para não ser condenado por associação criminosa. Responderia somente pela corrupção.
Em troca, Gritzbach revelou os nomes das pessoas ligadas à facção criminosa e à polícia que extorquiram dinheiro dele. Essa investigação está sendo feita pela Polícia Federal (PF).
A apuração sobre o assassinato do empresário é conduzida pela Polícia Civil, especificamente pelo Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa.
‘Cigarreira’ é apontado pela polícia como o principal mandante do assassinato de Vinicius Gritzbach. Segundo a investigação do DHPP e da Promotoria, ele contratou policiais para executarem a tiros Gritzbach.
Fonte: G1 Globo Foto reprodução